Sobre
a Estação Espacial Internacional e águas passadas
Durante a terceira semana de julho ocorreu a 2ª Conferência de Pesquisa e Desenvolvimento da Estação Espacial Internacional - ISS, sigla em inglês para o grande laboratório científico que orbita nosso planeta a 417km de altura - , em Denver-CO/EUA. E eu estava lá, participando como voluntário. Foi uma grande experiência, definitivamente. Por que não havia mais brasileiros? Talvez eu tenha uma resposta, dentre tantas possíveis.
A
ISS, como o nome sugere, é um consórcio composto por diversos
países. A princípio 16, incluindo o Brasil. Hoje em dia, 15. Quem
saiu?! Acertou.
Por
que o Brasil não faz mais parte dos países fabricantes da
Estação? A resposta é simples e direta: porque não conseguiu
cumprir as promessas que fez para entregar as 6 peças contratadas.
Esse é o motivo real.
Porém,
por mais que não queiramos relacionar, o imbróglio, como sempre,
tem a ver com política e (mal) gerenciamento. E quando digo
política, não me refiro a esse ou àquele partido.
Tudo
começou quando o Brasil assinou sua entrada no consórcio, em
outubro de 1997. A meta era: produzir seis peças relativamente
simples para a Estação, ao custo de US$120 milhões. Esse valor
estava muito além do orçamento da Agência Espacial
Brasileira. Em contrapartida, o contrato previa a utilização da ISS
para experimentos científicos, bem como o envio de um astronauta
brasileiro. Antes de abortar de vez, o País, atrasado e já sem
muitas esperanças de cumprir o acordado, renegociou com a NASA e sua
participação monetária seria agora de US$8 milhões. O novo acordo
foi feito em 2003. A contrapartida permanecia inalterada. A conclusão
da Estação estava prevista para 2010.
Em
2007, o Brasil já estava, na prática, fora do consórcio, embora o
contrato ainda estivesse de pé. Fomos incapazes, politica e
tecnicamente – note que de 1997 a 2007 tivemos diferentes
presidentes, ministros e partidos no comando - de cumprir o acordo.
Outra vez. E o mais interessante nisso tudo é que, em 2006, o
primeiro astronauta brasileiro, Marcos Cesar Pontes (um brilhante
ex-aluno do ITA e tenente-coronel, atualmente na reserva, da FAB) foi
posto em órbita por uma semana. Qual seu destino? A ISS, um tanto
quanto óbvio. Quem fez o transporte? A nave russa Soyuz
TMA-8. Sim, os russos. E por US$10 milhões.
Algo
parece não fechar. Segundo o acordo de 2003, entregando as peças,
investindo-se US$8 milhões, seríamos membros fabricantes da Estação
e teríamos direito a voar um astronauta para lá, com auxílio dos
ônibus espaciais norte-americanos. Abortamos o projeto e voamos
nosso astronauta, por US$10 milhões, apenas o voo. Tire suas
próprias conclusões, caro leitor.
O
fato é: o Brasil ficou mal na foto com os demais 15 países que
desenvolvem até hoje a ISS. Entretanto, não estamos totalmente
excluídos de participar. Podemos fazê-lo através de experimentos
científicos de grande mérito, a serem executados por astronautas
daqueles países. A ISS é um laboratório científico meritocrático.
Por isso somos, e seremos sempre, bem-vindos. Foi essa a principal
mensagem que eu levei da minha participação na Conferência de
julho.
Em
resumo: “águas passadas não movem moinho”. Mas, que a lição
frustrante sirva como aprendizado. Nosso País se propõe a ser
liderança no hemisfério Sul. Para tanto, é preciso que nossa
política, nossas engeharia, gerenciamento e Ciência andem a passos
largos e cadenciados. A sociedade parece acordar de um sono de
vinte anos e está com fome de boa política, saúde, infra-estrutura
e educação, dentre outros. A Estação Espacial Internacional é um
ótimo foco para afinarmos todos estes instrumentos sociais. No dia
em que tivermos a capacidade de conceber, transportar e realizar
nossos experimentos na ISS, com certeza, os frutos diretos dessa
conquista serão uma sociedade mais educada, mais saudável e mais
capaz.
Aproveitando a oportunidade de estar participando da conferência da ISS, fiz uma rápida "entrevista" com o Dr. David B. Spencer, professor do departamento de engenharia aeroespacial da Pennsyvania State University, e vice-presidente (técnico) da Sociedade Americana de Astronáutica. A seguir seguem as respostas dadas pelo simpático e entusiasmado David:
1. In
your opinion, what is the major aim/goal of this conference?
[Na sua opinião, qual o maior objetivo/meta desta conferência?]
"I feel that the main goal of this conference is to report on results from activities on the International Space Station. The ISS is now an operational laboratory that many countries have invested lots of money in, and now we are reaping the benefits of the work that is being done there. However, one problem is getting the word out and demonstrating the benefits of the station. Our goal is to publicize to the public and the technical community how the station benefits humanity."
em tradução livre
"Eu sinto que o objetivo principal desta conferência é trazer à tona os resultados das atividades da Estação Espacial Internacional. A ISS é atualmente um laboratório operante no qual muitos países investiram grandes quantias de dinheiro. E agora estão colhendo os benefícios dos trabalhos que estão sendo realizados lá. Entretanto, um problema é demonstrar efetivamente os benefícios da estação. Nossa meta é explicitar para o sociedade e para a comunidade técnica como a Estação beneficia a humanidade"
2.
How open is ISS to "international" non-members (like
Brazil) to develop science and education projects on the space
station? Please list some options.
[Quão aberta a ISS está para países não membros (como o Brasil) para desenvolverem projetos de ciência e educação lá? Por favor dê algumas opções ]
"The partners of the ISS are not the only users of the station. From what I heard at the International Partner's Panel (Wednesday lunch) stated that there have been something like 40 countries that have conducted experiments on the station. NASA and CASIS would have better information on how international non-members could use the station (not being a NASA person, I am not up-to-date on the details)."
em tradução livre
"Os sócios da ISS não são apenas os seus usuários. Pelo que eu ouvi no Painel de Parceiros Internacionais (almoço da quarta-feira), foi dito que cerca de 40 países têm/tiveram experimentos conduzidos na Estação. A NASA e a CASIS podem ter melhores informações sobre como países não membros poderiam usar a Estação (não sendo uma pessoa diretamente ligada à NASA, não estou atualizado sobre todos os detalhes)"
3.
Could you please send an encouraging message to young scientists and
students from South America (especially Brazil).?
[Poderia, por gentileza, enviar uma mensagem encorajadora para cientistas e estudantes da América do Sul (especialmente do Brasil)?]
"Find and pursue your passion. If you do this, you will wake up in the morning and can't wait to start doing what you do."
em tradução livre
"Encontre e persiga sua paixão. Se fizer isso, você vai acordar de manhã e não vai esperar por voltar ao trabalho"
pois é... o Brasil fez feio em não cumprir suas promessas ;o(
ResponderExcluir