03 junho 2014

Um pequeno passo para o homem, um grande salto para aS humanidadeS

Em meados de abril deste ano um grupo de pesquisadores da NASA anunciou a descoberta de um planeta muito interessante: Kepler-186f. Muito bem, antes de falarmos sobre o planeta em si, vamos desvendar seu nome. Kepler é o mesmo da sonda espacial que o detectou, um observatório astronômico que orbita a Terra, batizado em homenagem ao astrônomo alemão Johannes Kepler. Esta sonda irá observar as 100.000 estrelas mais brilhantes do céu à procura de planetas em suas órbitas. Portanto, o 186 significa que este planeta orbita a 186ª estrela observada pela sonda. O “F” quer dizer que ele é o sexto elemento do sistema (a letra f é a sexta do nosso alfabeto), contando a partir da estrela, ou seja, é o quinto planeta em torno dessa estrela. Agora podemos nos concentrar em por que este planeta é tão interessante.

Primeiramente, o Kepler-186f é um planeta rochoso. Sim, existem planetas que não são rochosos, como por exemplo Júpiter e Saturno que são compostos em sua maioria por gases – por isso são chamados de gigantes gasosos – ou Urano e Netuno que são compostos em sua maior parte por gelo. Além disso, o planeta descoberto é quase do mesmo tamanho que a Terra, sendo apenas 10% maior que nosso planeta. Porém, outros planetas rochosos maiores que a Terra já foram observados ao redor de outras estrelas, e formam a classe conhecida como “super-Terras”. O fato inédito é que Kepler-186f está em uma região conhecida como zona habitável. A zona habitável é definida como a região ao redor de uma estrela na qual a água pode existir no estado líquido. E água é o elemento essencial para a vida! Logo, se, eu disse se, o planeta possuir água, ele tem grandes chances de abrigar vida. Deste modo, o novo planeta descoberto torna-se um alvo favorito para os estudos dos astrobiólogos.

Algumas outras informações interessantes sobre Kepler-186f é que ele se encontra a 500 anos-luz da Terra e seu período orbital (o tempo gasto para dar uma volta completa ao redor de sua estrela) é de 130 dias, ou seja, um ano neste planeta dura aproximadamente 1 terço do ano terrestre. Gostaria de tratar brevemente sobre o conceito de ano-luz.

O ano-luz, apesar do nome poder nos deixar inclinados a acreditar ser uma medida de tempo é, de fato, uma medida de comprimento. Essa medida nos diz o quanto um objeto se movendo na velocidade da luz percorre durante um ano. Logo podemos calcular tal medida através do produto entre a velocidade da luz e a quantidade de segundos contidos em um ano. O resultado, pasmem, é que um ano-luz mede cerca de 9.500.000.000.000km, ou simplesmente 9,5 trilhões de quilômetros. Portanto, Kepler-186f está a quinhentas vezes esta distância da Terra. Como tudo que vemos é basicamente luz, emitida ou refletida, chegamos à conclusão de que a luz que vemos hoje refletida pelo planeta descoberto gastou 500 anos viajando no espaço até chegar aqui. Ou seja, o que vemos hoje é como este planeta era há 500 anos! Do mesmo modo a luz que é refletida hoje pela Terra gasta cinco séculos para atingir aquele planeta.

Deste modo, se houver vida em Kepler-186f, e mais, vida inteligente, capaz de construir e utilizar potentes telescópios, ao apontar na direção da Terra eles hoje estariam vendo nosso planeta como era no ano de 1514. Portanto, estariam vendo o início da colonização portuguesa em nosso país, por exemplo.


A descoberta de um planeta tão especial com as características de Kepler-186f nos traz novamente à tona a questão: “somos os únicos seres inteligentes no Universo?”. A resposta a essa pergunta virá no decorrer do tempo. E, possivelmente, ela será “não”. Logo, devemos refletir ainda mais sobre nossas atitudes em relação ao nosso “lar celestial” pois, além delas poderem nos prejudicar ou até mesmo extinguir, possivelmente estão sendo vistas por observadores em outros planetas. Assim, o anúncio deste novo planeta pode parecer um pequeno passo para o homem, mas certamente é um grande salto para as humanidades.


Pedro Ivo de Oliveira Brasil

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