09 agosto 2013


Sobre a Estação Espacial Internacional e águas passadas




Durante a terceira semana de julho ocorreu a 2ª Conferência de Pesquisa e Desenvolvimento da Estação Espacial Internacional - ISS, sigla em inglês para o grande laboratório científico que orbita nosso planeta a 417km de altura - , em Denver-CO/EUA. E eu estava lá, participando como voluntário. Foi uma grande experiência, definitivamente. Por que não havia mais brasileiros? Talvez eu tenha uma resposta, dentre tantas possíveis.






A ISS, como o nome sugere, é um consórcio composto por diversos países. A princípio 16, incluindo o Brasil. Hoje em dia, 15. Quem saiu?! Acertou.

Por que o Brasil não faz mais parte dos países fabricantes da Estação? A resposta é simples e direta: porque não conseguiu cumprir as promessas que fez para entregar as 6 peças contratadas. Esse é o motivo real.

Porém, por mais que não queiramos relacionar, o imbróglio, como sempre, tem a ver com política e (mal) gerenciamento. E quando digo política, não me refiro a esse ou àquele partido.

Tudo começou quando o Brasil assinou sua entrada no consórcio, em outubro de 1997. A meta era: produzir seis peças relativamente simples para a Estação, ao custo de US$120 milhões. Esse valor estava muito além do orçamento da Agência Espacial Brasileira. Em contrapartida, o contrato previa a utilização da ISS para experimentos científicos, bem como o envio de um astronauta brasileiro. Antes de abortar de vez, o País, atrasado e já sem muitas esperanças de cumprir o acordado, renegociou com a NASA e sua participação monetária seria agora de US$8 milhões. O novo acordo foi feito em 2003. A contrapartida permanecia inalterada. A conclusão da Estação estava prevista para 2010.

Em 2007, o Brasil já estava, na prática, fora do consórcio, embora o contrato ainda estivesse de pé. Fomos incapazes, politica e tecnicamente – note que de 1997 a 2007 tivemos diferentes presidentes, ministros e partidos no comando - de cumprir o acordo. Outra vez. E o mais interessante nisso tudo é que, em 2006, o primeiro astronauta brasileiro, Marcos Cesar Pontes (um brilhante ex-aluno do ITA e tenente-coronel, atualmente na reserva, da FAB) foi posto em órbita por uma semana. Qual seu destino? A ISS, um tanto quanto óbvio. Quem fez o transporte? A nave russa Soyuz TMA-8. Sim, os russos. E por US$10 milhões.

Algo parece não fechar. Segundo o acordo de 2003, entregando as peças, investindo-se US$8 milhões, seríamos membros fabricantes da Estação e teríamos direito a voar um astronauta para lá, com auxílio dos ônibus espaciais norte-americanos. Abortamos o projeto e voamos nosso astronauta, por US$10 milhões, apenas o voo. Tire suas próprias conclusões, caro leitor.

O fato é: o Brasil ficou mal na foto com os demais 15 países que desenvolvem até hoje a ISS. Entretanto, não estamos totalmente excluídos de participar. Podemos fazê-lo através de experimentos científicos de grande mérito, a serem executados por astronautas daqueles países. A ISS é um laboratório científico meritocrático. Por isso somos, e seremos sempre, bem-vindos. Foi essa a principal mensagem que eu levei da minha participação na Conferência de julho.

Em resumo: “águas passadas não movem moinho”. Mas, que a lição frustrante sirva como aprendizado. Nosso País se propõe a ser liderança no hemisfério Sul. Para tanto, é preciso que nossa política, nossas engeharia, gerenciamento e Ciência andem a passos largos e cadenciados. A sociedade parece acordar de um sono de vinte anos e está com fome de boa política, saúde, infra-estrutura e educação, dentre outros. A Estação Espacial Internacional é um ótimo foco para afinarmos todos estes instrumentos sociais. No dia em que tivermos a capacidade de conceber, transportar e realizar nossos experimentos na ISS, com certeza, os frutos diretos dessa conquista serão uma sociedade mais educada, mais saudável e mais capaz.


Aproveitando a oportunidade de estar participando da conferência da ISS, fiz uma rápida "entrevista" com o Dr. David B. Spencer, professor do departamento de engenharia aeroespacial da Pennsyvania State University, e vice-presidente (técnico) da Sociedade Americana de Astronáutica. A seguir seguem as respostas dadas pelo simpático e entusiasmado David:







1. In your opinion, what is the major aim/goal of this conference?
[Na sua opinião, qual o maior objetivo/meta desta conferência?]

"I feel that the main goal of this conference is to report on results from activities on the International Space Station. The ISS is now an operational laboratory that many countries have invested lots of money in, and now we are reaping the benefits of the work that is being done there. However, one problem is getting the word out and demonstrating the benefits of the station. Our goal is to publicize to the public and the technical community how the station benefits humanity."
em tradução livre
"Eu sinto que o objetivo principal desta conferência é trazer à tona os resultados das atividades da Estação Espacial Internacional. A ISS é atualmente um laboratório operante no qual muitos países investiram grandes quantias de dinheiro. E agora estão colhendo os benefícios dos trabalhos que estão sendo realizados lá.  Entretanto, um problema é demonstrar efetivamente os benefícios da estação. Nossa meta é explicitar para o sociedade e para a comunidade técnica como a Estação beneficia a humanidade"

2. How open is ISS to "international" non-members (like Brazil) to develop science and education projects on the space station? Please list some options.
[Quão aberta a ISS está para países não membros (como o Brasil) para desenvolverem projetos de ciência e educação lá? Por favor dê algumas opções ]

"The partners of the ISS are not the only users of the station. From what I heard at the International Partner's Panel (Wednesday lunch) stated that there have been something like 40 countries that have conducted experiments on the station. NASA and CASIS would have better information on how international non-members could use the station (not being a NASA person, I am not up-to-date on the details)."
em tradução livre
"Os sócios da ISS não são apenas os seus usuários. Pelo que eu ouvi no Painel de Parceiros Internacionais (almoço da quarta-feira), foi dito que cerca de 40 países têm/tiveram experimentos conduzidos na Estação. A NASA e a CASIS podem ter melhores informações sobre como países não membros poderiam usar a Estação (não sendo uma pessoa diretamente ligada à NASA, não estou atualizado sobre todos os detalhes)"


3. Could you please send an encouraging message to young scientists and students from South America (especially Brazil).?
[Poderia, por gentileza, enviar uma mensagem encorajadora para cientistas e estudantes da América do Sul (especialmente do Brasil)?]

"Find and pursue your passion. If you do this, you will wake up in the morning and can't wait to start doing what you do."

em tradução livre
"Encontre e persiga sua paixão. Se fizer isso, você vai acordar de manhã e não vai esperar por voltar ao trabalho"







Um comentário: